Clippings

Voltar

Brasil e União Europeia trocam experiências de sucesso sobre soluções baseadas na natureza

Sector Dialogues

Brasil e União Europeia trocam experiências de sucesso sobre soluções baseadas na natureza

14/11/17

Entre 18 e 27 de outubro, foi realizada uma missão na Europa que faz parte do projeto “Soluções Baseadas na Natureza para Cidades Resilientes: da Pesquisa e Inovação (P&I) à Implementação”, aprovado no âmbito dos Diálogos Setoriais, na área de Ciência & Tecnologia. O objetivo foi trocar experiências bem-sucedidas na implantação de Soluções Baseadas na Natureza em países da Europa e em cidades pelo Brasil, dentro das atividades previstas na cooperação entre o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e Direção Geral de Pesquisa e Inovação da Comissão Europeia, iniciadas em 2015, e também realizadas em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

Segundo o coordenador-geral de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do MCTIC e integrante da missão, Guilherme Weidmann, os Diálogos Setoriais são um instrumento importante para promoção da colaboração entre instituições da União Europeia e do Brasil em temas estratégicos. No caso das NBS (Nature-Based Solutions/ Soluções Baseadas na Natureza), compartilhamos com a Direção Geral de Pesquisa e Inovação a percepção de que a transição para cidades mais sustentáveis possui um componente importante na produção de conhecimento e na inovação. 

Os resultados dessa colaboração serão incorporados nas políticas de C&T&I implementadas pelo programa Tecnologias para Cidades Sustentáveis, ação do MCTIC que, desde 2010, vem apoiando projetos de pesquisa aplicada e demonstração tecnológica de soluções relacionadas à sustentabilidade e resiliência das cidades brasileiras. “Os resultados obtidos na primeira rodada foram úteis em demonstrar o potencial de colaboração que temos nesse tema e, na fase atual, estamos focados em consolidar redes de cooperação entre Brasil e UE, intensificar a troca de experiências e estabelecer uma estratégia para NBS no Brasil utilizando como ponto de partida as políticas de C&T&I”, esclareceu Weidmann.

Diante dos compromissos globais assumidos pelos países por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da Nova Agenda Urbana, para Weidmann fica evidente a necessidade de um olhar mais atento às cidades no sentido de promover modelos de urbanização mais integrados à natureza. “É precisamente nesse ponto que as Soluções Baseadas na Natureza demonstram sua importância, oferecendo uma forma de intervenção urbana que busca nas dinâmicas sistêmicas da própria natureza a inspiração para enfrentar os desafios vividos atualmente nas cidades”, revelou.

Durante o período da missão e com base nas experiências obtidas, os integrantes da comitiva brasileira concluíram, por meio da interação com peritos e das visitas técnicas, que as Soluções Baseadas na Natureza parecem vantajosas por diversas razões. Algumas delas são:  permitem uso dual (um reservatório para prevenção de enchentes utilizado como quadra esportiva); promovem o engajamento dos cidadãos (um jardim comunitário gerido pela vizinhança que serve de canal de comunicação com a administração municipal); melhoram a qualidade de vida das pessoas (uso de áreas verdes para redução de ilhas de calor e para influenciar positivamente a relação das pessoas com a cidade); e tornam as cidades mais resilientes (áreas verdes projetadas e executadas para amenizar de forma extremamente eficiente os efeitos das mudanças climáticas).

Além do coordenador do MCTIC Guilherme Weidmann, a delegação brasileira foi composta pelo assessor técnico do CGEE Cristiano Cagmin, que esteve presente em Tallinn (Estônia), nos dias 25 e 26 de outubro, participando da conferência “NBS - From Innovation to Common Use”.

Experiências de sucesso - Na Europa, esse tema mostra-se avançado, considerando-se os eventos dedicados e a criação de linhas de financiamento específicas para projetos nessa área. As atividades desenvolvidas na 8ª Convocatória dos Diálogos Setoriais, que incluíram um estudo preliminar e um seminário internacional, permitiram conhecer um grande número de casos de sucesso em diversos países da Europa com resultados muito positivos sobre o meio ambiente e sobre as pessoas. Existem ações voltadas a aumentar a resiliência das cidades a eventos climáticos extremos, à recuperação de paisagens, à inovação na gestão da cidade e a intervenções que têm impacto direto sobre a qualidade de vida das pessoas. 

Nessa fase da cooperação, buscou-se na missão uma proximidade maior dos países visitados com a realidade brasileira. O que resultou na escolha de cidades na Polônia (Wroclaw e Poznan) e na Estônia (Tallinn). A comitiva também visitou experiências importantes em Tampere, na Finlândia. Para Weidmann, os ganhos que se podem obter por consequência de uma boa prática são difíceis de se prever. “Nem sempre o contexto local envolve aspectos econômicos relevantes na viabilidade ou não de se reaplicar determinada experiência em outro local. Por isso, é importante entender bem o contexto. Muitas vezes, uma solução que não deu certo pode trazer lições tão ou mais importantes do que uma boa prática, desde que haja uma boa compreensão do contexto”, disse.

Segundo Weidmann, a cidade que mais impressionou os brasileiros foi Vitoria Gasteiz, na Espanha, que “conseguiu um impacto expressivo das intervenções realizadas em um tempo relativamente curto da implementação”. O que chamou a atenção sobre as experiências europeias foram o foco na relação custo-eficácia das soluções e também um sistema de tomada de decisões fortemente baseado em evidências.

Já no Brasil, o conceito de Soluções Baseadas na Natureza não é muito difundido. No entanto, um número considerável de boas práticas em infraestruturas verdes/azuis, o uso racional de recursos naturais e a urbanização sustentável por parte dos municípios brasileiros poderiam ser classificados dessa forma.  Weidmann afirmou que, durante esta etapa da cooperação, será realizado um levantamento de NBS no Brasil que será importante para estabelecer nossa estratégia de implementação “e também, acredito, será de grande interesse para os parceiros europeus”.

Durante a conferência “NBS - From Innovation to Common Use”, em Tallin, Estônia, a delegação brasileira apresentou uma ação que será iniciada em 2018. Trata-se do Observatório de Inovação em Cidades Sustentáveis, iniciativa financiada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente e que servirá de plataforma para colaboração em diversos temas, entre eles NBS.

Weidmann disse que a ideia é consolidar uma rede temática de cooperação entre instituições europeias e brasileiras, alcançar um entendimento mais preciso sobre o estado da arte das NBS no Brasil e estabelecer uma estratégia de implementação no país. Em paralelo, será feito um esforço dedicado a fortalecer as ações já existentes, realizando o segundo Seminário Internacional Brasil-Europa em Urbanização Sustentável e Soluções Baseadas na Natureza no Brasil, participar novamente da Green Week em Bruxelas em 2018 e lançar uma publicação com os estudos realizados nessa fase.

Desafio para todos – “O planejamento urbano sustentável e uma gestão participativa, com espaço para co-criação de políticas utilizando a inovação e o compartilhamento de conhecimento como motores de uma administração municipal com visão de longo prazo, é um sonho possível, mas ainda muito distante da nossa realidade atual”, disse Weidmann. Para ele, o maior desafio que se tem encontrado diz respeito à necessidade de mudança de paradigma. “Isso leva tempo, mas temos avançado concretamente nas políticas públicas de C&T&I para desenvolver e oferecer à sociedade algumas soluções destinadas a dar suporte à transição para cidades mais sustentáveis”. A adoção de alternativas que impliquem em uma compreensão holística dos desafios das cidades e uma estratégia de ação de abordagem integrada, em oposição a abordagens compartimentadas com ações desarticuladas, exigem uma mudança de comportamento profunda de toda a sociedade.

Um caminho possível para a população contribuir com esse desafio seria buscar uma conexão maior com a natureza, que tem muito a ensinar. Uma das lições é que vivemos dentro de um sistema com interações complexas e que a ação de cada indivíduo impacta, em maior ou menor medida, o sistema como um todo.

 


Clique aqui para ver a matéria original


Sem comentários ainda. Please sign in to comment.