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Compilação didática sobre o bioetanol do Brasil

Pró Inovação Tecnológica na Indústria - PROTEC

Compilação didática sobre o bioetanol do Brasil

02/01/2009

Pesquisador organiza livro sobre as vantagens tecnológicas do etanol de cana-de-açúcar. Objetivo é que obra se torne referência para produção do combustível em outros países

Subsidiar um diálogo internacional com base científica visando à criação e ao desenvolvimento de um mercado mundial de biocombustíveis, tendo como base uma compilação didática que mostre as vantagens econômicas, sociais e ambientais do etanol da cana-de-açúcar produzido no Brasil.

Essa é a proposta do livro Bioetanol de Cana-de-Açúcar - Energia para o Desenvolvimento Sustentável, organizado por Luiz Augusto Horta Nogueira, professor do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá, em Minas Gerais. A publicação está disponível para consulta gratuita na internet.

"A obra aborda as principais características, limitações e vantagens do etanol produzido no Brasil. Ela mostra, por exemplo, estudos que comprovam que o bioetanol é o combustível que melhor atende as necessidades de redução de gases do efeito estufa, podendo ele ser introduzido, sem grandes problemas, na matriz energética de quase todos os países", afirmou Nogueira.

Segundo ele, essas e outras questões são abordadas em bases competitivas. "Nesse momento em que a humanidade se preocupa em obter alternativas sustentáveis para seu desenvolvimento energético, destacamos que o Brasil vem desenvolvendo e aperfeiçoando, há mais de 80 anos, uma alternativa energética que pode servir de modelo para outros países."

A idéia é que a obra também sirva de referência para o estudo dos potenciais da produção do biocombustível a partir da cana-de-açúcar em condições tecnológicas e climáticas adequadas, especialmente nos países tropicais e subtropicais.

O conteúdo do livro tem como base artigos e estudos científicos de diversos autores brasileiros, além da literatura técnica disponível e levantamentos específicos sobre o setor realizados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e pelo Escritório Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

O trabalho contou ainda com a participação de pesquisadores do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e de representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"O CGEE acumula uma série de textos e estudos sobre o etanol, realizados principalmente em 2004 e 2005, que geraram conhecimentos de ponta que agora estão se convergindo nessa publicação", disse Lúcia Melo, presidente do CGEE durante o lançamento do livro no fim de novembro, na capital paulista.

"Os textos foram propositalmente produzidos em uma linguagem simples, em três idiomas, para que o Brasil possa participar, de modo mais intensivo, do esforço internacional de uso da biomassa. A obra ajudará a difundir a idéia de que o País tem condições reais de ampliar sua produção de etanol a partir da cana-de-açúcar a partir de uma agenda comum entre os países", explicou.

A publicação está dividida em nove capítulos: "Bioenergia e biocombustíveis", "Etanol como combustível veicular", "Produção de bioetanol", "Co-produtos do bioetanol de cana-de-açúcar", Tecnologias avançadas na agroindústria da cana-de-açúcar", "Bioetanol de cana-de-açúcar no Brasil", Sustentabilidade do bioetanol de cana-de-açúcar: a experiência brasileira", "Perspectivas para um mercado mundial de biocombustíveis" e "Uma visão de futuro para o bioetanol combustível".

Aviões flex

Além de descrever as características biológicas da cana-de-açúcar como planta, as técnicas de produção do álcool e de seus co-produtos como a bioeletricidade, o livro aponta que, em 2007, o agronegócio da cana movimentou cerca de R$ 41 bilhões no Brasil, quando foram produzidos 30 milhões de toneladas de açúcar e 17,5 bilhões de litros de bioetanol no País.

A produção de cana-de-açúcar saltou de 88,92 milhões de toneladas na safra 1975/76 para 489,18 milhões de toneladas na safra 2007/08. A cultura da cana ainda ocupa, no entanto, apenas 9% da superfície agrícola do País, perdendo em área cultivada para a soja e milho.

No Brasil o consumo do etanol produzido da cana-de-açúcar já substitui metade da procura pela gasolina e seu custo é competitivo mesmo sem os subsídios que antigamente viabilizaram a produção do biocombustível. Esses incentivos tiveram início com a criação do Proálcool, programa lançado no País em meados da década de 1970 visando a reduzir a dependência da importação de petróleo.

"Considerações econômicas da indústria do açúcar também pesaram no estabelecimento do Proálcool, porém preocupações de caráter ambiental e social não tiveram papel significativo na ocasião", lembra o físico José Goldemberg no prefácio do livro.

"Já nos Estados Unidos, o grande produtor mundial de etanol com base no milho, o programa é mais recente e suas justificativas são a eliminação de aditivos da gasolina e a redução das emissões de gases que provocam o aquecimento global", acrescenta Goldemberg, pesquisador do Centro Nacional de Referência em Biomassa, vinculado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

Nos países da Europa Ocidental, por sua vez, o etanol é produzido a partir do trigo e da beterraba, sendo que o custo do biocombustível é de duas a quatro vezes mais elevado do que no Brasil e subsídios internos e barreiras alfandegárias protegem as indústrias locais, impedindo a importação de etanol brasileiro.

Goldemberg alerta ainda que o que se pode chamar de "solução brasileira para os problemas dos combustíveis fósseis", caracterizada pelo uso do etanol de cana-de-açúcar para substituir a gasolina, não é exclusivo do Brasil e também está sendo adotado em outros países produtores de cana, dos quais existem quase cem no mundo.

A obra aborda ainda assuntos como "O etanol em motores aeronáuticos", "As possibilidades do açúcar orgânico", "Evolução da produção de eletricidade nas usinas brasileiras", "Primeiros passos da etanolquímica no Brasil" e "Melhoramento genético e disponibilidade de cultivares". De acordo com a publicação, o uso do etanol hidratado como combustível aeronáutico é uma realidade comum no interior do Brasil, o que comprova o bom desempenho desse combustível em motores alternativos.

Desde 2005 a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) fornece kits para adaptação de aviões agrícolas, de gasolina para etanol, e atualmente está desenvolvendo sistemas flex fuel para motores aeronáuticos, visando a atender aviões agrícolas de pequeno porte com motor a pistão, cuja frota estimada no Brasil é de 12 mil aeronaves.

"O uso do etanol hidratado permite a expressiva economia operacional, pois reduz em mais de 40% o custo por quilômetro voado e incrementa em 5% a potência útil do motor", destaca o livro.


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