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Economia do hidrogênio: US$ 12 bilhões em 2011

Ambiente Energia

Economia do hidrogênio: US$ 12 bilhões em 2011

07/02/2010

Por Júlio Santos, editor da Agência Ambiente Energia

 

O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) prepara um novo estudo sobre a economia do hidrogênio. Entre março e junho, a entidade planeja divulgar o resultado do trabalho que vai avaliar o impacto da decisão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de fazer um corte anual de US$ 100 milhões em investimentos no desenvolvimento de carros movidos a hidrogênio. O objetivo da pesquisa é identificar as tendências tecnológicos que vêm surgindo após a decisão do governante norte-americano.

“Um corte como este cria apreensão quanto à continuidade do financiamento na área”, comenta Demétrio Filho (foto), assessor do CGEE, contando que em recente seminário que participou na Califórnia (EUA) as respostas dos pesquisadores foram muito negativas. Em maio de 2009, a entidade divulgou o documento “Hidrogênio Energético - Cenário Atual”, que mapeia os investimentos na Economia do Hidrogênio no Brasil e no exterior, entre eles Japão, Rússia, Estados Unidos, China, Canadá e nações da Europa. A pesquisa também revela as tendências tecnológicas e mercadológicas para o Brasil nos próximos 30 anos.

A Economia do Hidrogênio, termo cunhado pelo economista norte-americano Jeremy Rifkin, já faz parte da agenda do CGEE há algum tempo. Um estudo do início da década revelava uma expectativa de investimento mundial em células a combustível de cerca de US$ 590 milhões em 2003, chegando a US$ 12 bilhões em 2011.

“Aqueles que estão fazendo pesquisa sobre hidrogênio e células a combustível dizem que os recursos e a euforia nesta área passa por ciclos. Este parece ser um vale, mas em alguns anos veremos outro pico”, diz Demétrio Filho nesta entrevista exclusiva para a Agência Ambiente Energia.

Agência Ambiente Energia - O que se busca com este tipo de estudo?

Demétrio Filho - A ideia é, inicialmente, identificar quais são as tendências mundiais, que vêm surgindo principalmente após o corte do governo americano nas pesquisas, para balizar os investimentos nacionais. Para o Brasil, é importante se investir os recursos sabiamente e, por isso, estudos como estes fornecem informações preciosas ao Ministério da Ciência e Tecnologia a respeito das tendências mundiais.

Agência Ambiente Energia - Que impactos a decisão do governo norte-americano vai gerar no desenvolvimento desta tecnologia no mundo?

Demétrio Filho - Na conferência que participei no mês de novembro, em Palm Springs na Califórnia, fiz esta pergunta para muitos dos participantes. As respostas foram pessimistas. Muito da pesquisa desenvolvida sobre o tema é financiada pelo governo. Um corte como este cria apreensão quanto à continuidade do financiamento na área. Mesmo as empresas que possuem recursos próprios para desenvolver pesquisa, precisam justificar seus gastos aos investidores e estes, informados do corte, podem também começar a discutir se os recursos não seriam melhor empregados se fossem utilizados em outra área.

Agência Ambiente Energia - Como tem sido o fluxo de investimentos nesta área?

Demétrio Filho - Aqueles que estão fazendo pesquisa sobre hidrogênio e células a combustível dizem que os recursos e a euforia nesta área passa por ciclos. Este parece ser um vale, mas em alguns anos veremos outro pico. O último pico foi, sem dúvida, no ano de 2003 quando o presidente Bush (ex-presidente dos Estados Unidos) anunciou recursos da ordem de bilhões para a área.

Agência Ambiente Energia - Este segundo estudo vai contratar notas de especialistas que percorreram várias feiras sobre o assunto. O que dá para antecipar de tendências na área de hidrogênio?

Demétrio Filho- Esperamos que sim. No próximo mês teremos uma reunião com especialistas que relatarão uma conferência na Coréia e outra nos EUA. Esperamos ouvir o que eles experimentaram no ano passado e como isto se compara com os outros anos que participaram de conferências semelhantes. Vale salientar que os países asiáticos têm investido fortemente na área de células a combustível, sendo o Japão e a Coréia dois dos mais proativos na área.

Um dos carros mais impressionantes, movido a hidrogênio, é o Honda FCX clarity, que estava disponível para test drive na conferência de Palm Springs e tinha uma fila enorme para testá-lo. Todos se impressionavam com o jato de água que o mesmo jorrava pelo escape, e que podia ser bebida dali mesmo (http://automobiles.honda.com/fcx-clarity/)

Agência Ambiente Energia - O estudo sai mesmo em março deste ano?

Demétrio Filho - O 17º contrato de gestão do CGEE alterou o prazo do estudo para junho deste ano. Assim, esperamos que o mesmo seja concluído a qualquer momento entre o mês de março e junho.

Agência Ambiente Energia - Do ponto de vista comercial, ainda está muito longe de termos esta solução em maior escala no nosso dia a dia?

Demétrio Filho - Acredito que não. Existem nichos tecnológicos em que uma célula a combustível pode apresentar uma solução muito eficiente e prática, competindo com as tecnologias atuais. Note que o hidrogênio é um dos vários possíveis combustíveis utilizados nas células. Existem células, por exemplo, que utilizam o metanol como combustível (http://en.wikipedia.org/wiki/Direct_methanol_fuel_cell) e estas estão sendo fabricadas como pequenos módulos para carregar eletrônicos portáteis. Veja, por exemplo, o produto já comercial abaixo, da Toshiba (http://www.hitechreview.com/it-products/toshiba-launches-dynario-direct-methanol-fuel-cell-external-power-source-for-mobile-electronic-devices/18692/).

O combustível destas células é uma pequeno frasco de uma mistura de metanol e água. Todos concordam que por mais tempo que a bateria de um laptop prometa durar, este tempo é sempre inferior ao que gostaríamos. E, para aqueles que não têm uma tomada por perto para carregar seu equipamento, este aparelho aparece com uma saída interessante.

O custo de algumas baterias de laptop que podem manter o equipamento ligado por 12 horas, por exemplo, é proibitivo. Assim, estas células podem facilmente ser uma solução, já que tudo que o usuário precisa é carregar um pequeno frasco contendo o combustível. De um modo geral, as células a combustível se apresentam como uma solução viável em vários casos em que se necessita de energia de qualidade por um longo período de tempo. Veja, por exemplo, os casos dos bancos (onde cortes de energia podem representar um grande prejuízo) e a telefonia móvel (em que não somente a existência, mas também a qualidade da energia, são fundamentais).

Agência Ambiente Energia - Em quanto tempo é possível ter custos menores para o emprego mais intensivo desta tecnologia?

Demétrio Filho - Como explicado na pergunta anterior, depende muito da tecnologia com a qual a célula a combustível está competindo. Existem aplicações em que as células a combustível já se apresentam como uma solução economicamente viável. Eu acredito que no futuro próximo teremos um mercado compartilhado pelas baterias e células a combustível. Note que as baterias que utilizamos atualmente (em nossos celulares, câmeras digitais e laptops, por exemplo) usam elementos químicos como o Lítio (Li), Cádmio (Cd) e Níquel (Ni) que são certamente recursos naturais finitos.

Assim, o cenário futuro que as baterias dominarão o armazenamento de energia é pouco favorável. Em minha opinião, a menos que se faça uma descoberta sem precedentes na tecnologia de baterias de modo a se encontrar uma bateria que seja composta por materiais abundantes em nosso planeta e que possa armazenar muito mais carga em um menor volume (em termos técnicos, uma bateria com maior densidade de carga), o armazenamento de energia do futuro será dominado pelas células a combustível.

Agência Ambiente Energia - Em termos de aplicação do hidrogênio, como este uso está sendo feito hoje no Brasil e no mundo?

Demétrio Filho - Por incrível que pareça, o Brasil e o mundo produzem e utilizam muito hidrogênio. Atualmente ele é empregado principalmente no craqueamento do petróleo. Mas, por exemplo, a margarina que comemos é gordura hidrogenada. Ou seja, se utiliza hidrogênio no processo. Na maioria dos casos, o hidrogênio é produzido in situ. Ou seja, nas refinarias existe uma central de produção de hidrogênio para ser utilizado no processo de refino.

Agência Ambiente Energia - Falar de carro elétrico e híbrido no Brasil ainda é um sonho distante?

Demétrio Filho - De maneira alguma. Eu acredito que o carro híbrido está muito próximo de chegar às grandes cidades brasileiras. Hoje mesmo estive “preso” no trânsito do Rio de Janeiro e fiquei pensando na quantidade de combustível que se queima com eficiência nula, ou seja, quando estamos parados no trânsito. O carro híbrido é infinitamente mais econômico, pois seu motor desliga quando estamos parados e, portanto, não há consumo de qualquer combustível quando o carro se encontra parado. E em baixa velocidade, o motor elétrico é o que movimenta o carro e este é muito mais eficiente que o a gasolina.

O carro elétrico será o próximo passo. O carro elétrico apresenta várias vantagens em relação ao que utiliza combustível fóssil. A que mais gosto de citar é a simplicidade do motor. O motor elétrico é capaz de atingir dezenas de milhares de rotações por minuto. Isto implica que não precisamos de um câmbio. Tudo é mais simples.

Agência Ambiente Energia - Como o pré-sal pode alterar os cursos das pesquisas em economia do hidrogênio?

Demétrio Filho - Muito embora novas descobertas de petróleo tenham levado a uma certa acomodação pelo desenvolvimento de novas tecnologias que possam vir a substituir os combustíveis fósseis, eu acredito que aos poucos estamos entendendo que a escassez de petróleo não é o único motivo que estimula a procura por novas tecnologias. Outros fatores como o meio ambiente, a instabilidade de fornecimento e o aumento do custo do mesmo são variáveis que começam a solidificar a tendência de se manter uma procura constante por estas novas tecnologias, independentemente do que vier a acontecer com o petróleo.


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