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Oficina do CGEE discute a crise e seus impactos sobre o financiamento de inovação

Jornal da Ciência

Oficina do CGEE discute a crise e seus impactos sobre o financiamento de inovação

26/03/2009

Crise pode ser uma oportunidade para buscar novas soluções para antigos problemas


O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) reuniu dezenas de especialistas para debater a crise atual e o financiamento à inovação no mês de fevereiro. José Eduardo Cassiolato, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ronald Dauscha, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), e João Carlos Ferraz, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apresentaram suas visões sobre o tema.
Os especialistas concordam que é preciso muita paciência, perseverança e dedicação, principalmente por parte dos órgãos públicos, na gestão das políticas, e que a crise pode ser uma oportunidade para buscar novas soluções para antigos problemas.

Grandes potências

O economista José Cassiolato mostrou como a crise afetou os Estados Unidos, com o surgimento de sucessivas bolhas financeiras - que tiveram por base inovações importantes no setor - e com o fim da riqueza imaginária, que, segundo ele, representa o desaparecimento de dois a três trilhões de dólares dos cofres norte-americanos.
Assim, segundo sua previsão, a economia inteira terá que se reciclar, já que essa “exuberância irracional” (expressão usada por Alan Greespan, em 1996) da valorização financeira desaparece de vez com esta crise de grandes proporções. Cassiolato ainda constatou que, com o colapso, houve a deterioração da cooperação entre o capital produtivo e o financeiro.
Aos convidados, o economista apresentou uma linha do tempo das crises mundiais, além de um panorama de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das multinacionais em países como o Reino Unido e a China. Ele frisou a necessidade de as lideranças políticas e econômicas usarem a criatividade em momentos como esse, já que, segundo ele, normalmente, mais oportunidades são perdidas do que aproveitadas nessas ocasiões.

Impacto no Brasil

Cassiolato fez ainda considerações sobre a responsabilidade das inovações financeiras na crise, o impacto dela nas finanças e na economia real como parte de um processo de mudança que força o surgimento de inovações expressivas e como o país assimilou a crise.
O especialista afirmou que o Brasil mantém uma posição sólida, com um elevado nível de reservas, uma política monetária e fiscal satisfatória e um sistema financeiro que comporta bancos de desenvolvimento e empresas estatais que ajudem na travessia da crise. Além disso, aponta como pontos fortes do país o baixo endividamento do setor privado, uma melhora na distribuição de renda, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os investimentos advindos dele. Entretanto, alerta que a instabilidade internacional, a formação de expectativas, a mídia e as elites podem ser um entrave ao bom andamento da economia.
O engenheiro Ronald Dauscha, que trabalhou por mais de duas décadas na multinacional Siemens, ressaltou que “existe claramente no Brasil uma crise de crédito e temor” e que houve um reflexo direto dela sobre o faturamento e o capital de giro das empresas. Só no estado de São Paulo, segundo ele, 124 mil trabalhadores foram demitidos de multinacionais no setor de tecnologia e informática no mês de janeiro deste ano e 204 mil postos desapareceram desde o início da crise em diversas áreas.
Com relação aos investimentos em P&D no país, ele acredita que há um grande risco de redução, “mesmo quando estas áreas sejam reconhecidas como eficazes geradoras de valor agregado para a empresa ou como alavancadoras de rentabilidade e/ ou produtividade”.

Fomento à inovação

Uma proposta que Dauscha defende para esta época conturbada é não cortar orçamentos federais para a inovação. Segundo ele, a pauta do dia é dar foco e não reduzir os fomentos. E é exatamente nessa linha que o BNDES está trabalhando.
O diretor do Banco, João Carlos Ferraz, responsável pelas áreas de planejamento, de gestão de riscos e de pesquisa e acompanhamento econômico, garantiu que nesse momento todos os investimentos por parte do BNDES estão assegurados. Apesar do cenário drástico, afirma que o Brasil ainda consegue “respirar”, mas isso não significa que possa “relaxar”. “Há uma maior fragilidade nas indústrias ligadas aos recursos naturais, estruturas que investem pouco em inovação”. De acordo com Ferraz, a retração do crédito atingirá significantemente o setor de bens duráveis, que depende desse crédito para seu desenvolvimento.
No entanto, muitas vezes crises podem gerar oportunidades para empresas. É o que acredita Dauscha. De acordo com ele, o investimento em P&D deve continuar, principalmente na inovação de tecnologias que levam certo tempo para serem comercializadas após a criação.
Em consonância com os outros especialistas do workshop, ele destacou a necessidade de uma política pública clara de apoio à PD&I nas grandes empresas, caso contrário, o sistema pode ser fortemente comprometido e assim prejudicar toda atividade de inovação. Entre outras propostas, o engenheiro sugere estender a subvenção aos segmentos não só estratégicos, mas também aos setores tradicionais.
Além disso, propõe a isenção ou a redução de impostos para aquisição de equipamentos de laboratórios para empresas privadas e a capacitação técnica para pesquisadores e demais profissionais envolvidos com inovação durante o período de crise.

Foco nas complexidades do presente

Além dos especialistas do CGEE, a oficina contou com a presença de representantes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
No final do evento, a presidenta do Centro, Lucia Melo, destacou que sem ousadia não se pode avançar e que há a necessidade da construção no país de políticas com visão de futuro, “incorporando as complexidades vividas atualmente, e não políticas baseadas no passado”.


(Notícias CGEE)


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