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Carvão mineral

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Carvão mineral

O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) realizou, ontem (3), em Brasília (DF), uma reunião entre investidores e pesquisadores que desenvolveram uma tecnologia que promete impulsionar o mercado de carvão mineral nacional, de forma eficiente e limpa. O encontro contou com a participação de representantes de instituições como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre outras.

O Brasil possui uma das maiores reservas de carvão mineral do mundo. De acordo com estudo divulgado pelo Centro no ano passado, apenas 13 nações dispõem de reservas maiores que as brasileiras. No entanto, a produção nacional encontra-se apenas na 26ª posição. “O Brasil é o único possuidor de grandes reservas que não consta entre os maiores produtores mundiais de carvão mineral”, destacou o líder da pesquisa, Elyas Medeiros, durante a reunião.

O minério possui, atualmente, duas aplicações principais no país: a utilização como combustível para geração de energia elétrica, incluindo o uso energético industrial, e a utilização na siderurgia para a produção de coque, ferro-gusa e aço. Segundo a pesquisa do Centro, seguindo a atual taxa de utilização, as reservas nacionais são suficientes para prover carvão por mais de 500 anos.

No entanto, o estudo demonstra que, além de utilizar de forma modesta a reserva nacional disponível, o país ainda importa carvão para o uso siderúrgico, principalmente da Austrália, Estados Unidos, Rússia, Canadá, Colômbia, Venezuela, Indonésia e África do Sul. “O carvão nacional produzido não possui as propriedades adequadas para este uso com as tecnologias atualmente utilizadas”, disse Medeiros.

Gaseificação

Para reverter esse cenário, uma das alternativas apontadas no estudo foi o investimento em um processo que transforma a pedra de carvão em gás, o que possibilita diferentes formas de utilização do mineral. O processo é chamado de “gaseificação por leito fluidizado circulante”. No Brasil, ele foi reproduzido de maneira pioneira pela empresa Delta H.

A maior reserva de carvão mineral do Brasil fica em Candiota (RS) e responde por 23% do potencial do país. O CGEE articulou a negociação da empresa com a prefeitura do município, que forneceu a matéria-prima para a Delta H realizar os seus experimentos.

Para o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador, essa é uma tecnologia brasileira sustentável muito importante e resultará na primeira unidade de gaseificação do Brasil. “O município reúne todas as condições para a concretização do projeto ao oferecer a matéria prima necessária. Com certeza daremos um grande salto no que diz respeito ao desenvolvimento e inovações tecnológicas, pois projetos assim são referências no mundo”, afirmou.

Durante a reunião, o pesquisador Sérgio Leite lembrou que a tecnologia de gaseificação é conhecida e implantada comercialmente em diversos países, mas o processo não é divulgado no Brasil. “Foi necessário reproduzir aqui o processo que era feito lá fora. Após nove meses de trabalho intenso, onde era normal passarmos a noite inteira acompanhando o experimento, obtivemos êxito na gaseificação. Desde então, já acumulamos mais de 1000 horas de ensaios bem sucedidos e isso nos impulsiona para uma planta maior com um caráter comercial", afirmou.

Pré-sal do carvão

O carvão mineral também é chamado de petróleo sólido pela sua grande capacidade energética. O estudo destaca que a quantidade de energia armazenada nos recursos de carvão é 3,5 vezes maior que a energia contida nos recursos petrolíferos.

Para Elyas Medeiros, o país possui tecnologia suficiente para melhorar a utilização do carvão, porém ela é mal aproveitada. "O Brasil possui conhecimento para transformar o carvão em ‘petróleo’, plástico e em fertilizantes, porém isso não é aplicado aqui. O carvão é utilizado apenas nas termelétricas que são de baixa eficiência e poluidoras", ressaltou.

O uso do recurso natural foi direcionado no Brasil, em sua maioria, para a geração de energia elétrica, via as termelétricas, incluindo o uso energético industrial e a utilização na siderurgia para a produção de coque, ferro-gusa e aço. Com o uso do carvão em forma de rocha, o aproveitamento energético é de, no máximo, 50%, e o retorno financeiro é de R$ 1,00 de carvão extraído para R$ 3,00 de energia vendida. Já com a gaseificação do mineral, o retorno financeiro se apresenta sete vezes mais lucrativo do que o mineral sólido.

Os participantes demonstraram interesse pela tecnologia durante a reunião. Para o representante do BNDES, Bruno Muller, a expectativa agora é saber em que estágio de produção a planta de 10 MW apresentada se encontra, para saber como a instituição poderá apoiar. “Precisamos entender e ver como enquadramos isso nas linhas de financiamento à inovação”, afirmou.

Já o representante da Aneel, Fábio Stacke, considerou a iniciativa um ótimo projeto de P&D, que poderia ser financiado pela Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE). “Isso seria uma ótima estratégia para desenvolver essa tecnologia”, disse.

Para o pesquisador Sérgio Leite, a gaseificação traz muitos benefícios para a economia nacional, pois é uma alternativa para que o país não importe tantas tecnologias de fora. "A queima do carvão traz muitos benefícios para o setor econômico e para a sustentabilidade nacional. Tanto o rendimento é alto, quanto pode ser aplicado na produção de diversos itens como fertilizantes, gasolina, plásticos, metanol, ureia, entre outros. A emissão de CO2 é reduzida e o processo não deixa resíduos líquidos. Os resíduos sólidos são as cinzas que podem ser reaproveitadas", afirmou.

Para conhecer o potencial nacional do setor, acesse o estudo do CGEE “Roadmap tecnológico para produção, uso limpo e eficiente do carvão mineral nacional: 2012 a 2035, disponível neste link. http://www.cgee.org.br/busca/ConsultaProdutoNcomTopo.php?f=1&idProduto=7877.



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