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Desertificação e Semiárido

Conferência internacional

Desertificação e Semiárido

Ciência e Tecnologia para o semiárido na pauta da ICID + 18

Na manhã do segundo dia da ICID+18 debateu-se para um público variado, no auditório Ásia, o tema Ciência e Tecnologia para o semiárido.

A coordenadora da mesa, Lucia Melo, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), defendeu políticas ousadas que mudem o paradigma vigente. “Temos que incorporar na agenda das regiões menos desenvolvidas novas políticas e tecnologias para o desenvolvimento”. A dirigente defende o abandono do viés assistencialista para o semiárido brasileiro e enfatizou a importância da pesquisa de fronteira especificamente voltada para essas regiões, desenvolvida por pesquisadores e instituições locais.

Aldo Malavasi, da Moscamed, falou sobre sua experiência no Vale do São Francisco com a esterilização de moscas para o melhoramento do plantio de frutas na região. O objetivo da organização é desenvolver um sistema integrado para o controle das moscas de frutas na região do semiárido e assim aumentar a qualidade final da produção dessas frutas no nordeste do país. “Vinte porcento do que se vende no supermercado é orgânico”, avalia.

Malavasi também defende a fruticultura para a geração de empregos, e reconhece que atualmente a produção não é tão importante como antes. “Hoje existem outros fatores que elevam o custo final do produto, como a sustentabilidade, os marcos regulatórios, a saúde alimentar, as implicações sanitárias e o turismo”.

Outro tema abordado na palestra foi o uso racional da bioenergia no semiárido brasileiro. Luis Augusto Horta, professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), colocou a questão da produção de energias renováveis nessas regiões como instrumento para a promoção do desenvolvimento. Segundo ele, a maior população semiárida do mundo é a do Brasil, com 27 milhões de habitantes e indicadores econômicos muito baixos comparados ao resto do país. “Romper isso certamente passa pelo uso de fontes energéticas mais adequadas”, afirma.

Horta coloca que hoje o desafio é levar energia elétrica para todas essas populações. De acordo com ele, a queima e o uso irracional da lenha é o grande vilão para o desenvolvimento sustentável e o bom uso de energia renovável nessas regiões. De acordo com a apresentação de Horta, são consumidos 25 milhões de metros cúbicos de lenha. “Em 2004, só nas festas de São João de Campina Grande foram consumidos 1400 m3 de lenha”, exemplifica como curiosidade. O pesquisador aponta como solução incrementar o uso da lenha e usá-la de maneira mais eficiente.

O último palestrante dessa plenária foi também o único estrangeiro a compor a mesa, Mohamed Hassan, presidente da Academia de Ciências para os Países em Desenvolvimento (TWAS). De acordo com ele, somente a África tem 14 classes de zonas ecológicas, que variam de regiões secas a desérticas e de úmidas a florestas tropicais.

Hassan listou alguns desafios enfrentados pelos países que sofrem com a desertificação: água, energia, saúde, agricultura e biodiversidade e futuramente mudanças climáticas. E fez ao público algumas perguntas: Como melhorar o acesso a água e a sua gestão? Como levar energia às comunidades rurais e explorar a energia renovável no semiárido? Como reduzir os múltiplos impactos das mudanças climáticas? Como solucionar problemas de saúde pública e pobreza no semiárido? O dirigente defende, entre outras medidas, pesquisas sobre purificação de água e a produção de células nanosolares mais baratas e mais eficientes.

Ao final da sessão, cada palestrante apontou, em uma frase, uma proposta para compor a Carta de Fortaleza, que será elaborada no último dia da ICID+18. Aldo Malavasi propôs a formação de recursos humanos especificamente voltados para o semiárido. Luis Augusto Horta sugere o desenvolvimento de energias renováveis perenes a partir de algumas espécies oriundas do semiárido brasileiro. Para concluir, Mohamed Hassan sugere que, com o apoio da TWAS, sejam identificados os programas em andamento que atuam no semiárido de países em desenvolvimento com o propósito de aprimorá-los. Além disso, sugere a formação de uma rede de excelência para pesquisa entre esses países.

Desenvolvimento
Em outra sessão, à tarde, no auditório principal, o diretor do CGEE, Antônio Carlos Galvão, presidiu a sessão sobre o desenvolvimento das regiões semiáridas. Ele leu uma mensagem de Ignacy Sachs, Centro de Pesquisa para o Brasil Contemporâneo, França, destacando que a humanidade tem dois grandes desafios: pobreza e mudança climática. Ele disse que a cooperação científica e ecológica é importante e comentou que as idéias e estratégias que possam enfrentá-las devem continuar a serem compartilhadas entre culturas e regiões. Ele sugeriu a criação de desafios para arquitetos e urbanistas para repensar as cidades e a habitação no contexto do novo paradigma de consciência climática.

Ivan Silva Lire, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), falando sobre as regiões semiáridas da América Latina, observou que 11% das regiões economicamente ativas geram 55% do produto interno bruto, salientando que essas regiões são caracterizadas pela desigualdade. Ele disse que as regiões com alto crescimento exploram os recursos naturais que estão ligados à economia mundial. Tania Bacelar, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil, disse que há mais oportunidades do que ameaças ao se tratar de mudanças climáticas. Ela observou que as regiões semiáridas do Brasil enfrentam diminuição das colheitas e aumento da urbanização crescente. José Eli da Veiga, Universidade Estadual de Campinas, Brasil, chamou a atenção para a importância do intercâmbio eficaz de conhecimentos e do incentivo e transferência de tecnologia na região, a fim de aumentar as atividades econômicas das comunidades. Ele ressaltou, no entanto, que o preço das tecnologias deve diminuir para aumentar a aceitação e o uso de novas tecnologias.

(Com informações do CGEE e da IISD)

 



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