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Hidrologia

Prêmio internacional

Hidrologia

O professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor do CGEE, Carlos Tucci, foi agraciado, por unanimidade, com o International Hydrology Prize 2011. O prêmio é outorgado anualmente pela International Association for Hydrological Sciences (IAHS), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização Meteorológica Mundial (WMO). O professor receberá o prêmio em julho em sessão plenária da IAHS, na cidade de Melbourne, na Austrália.

O prêmio existe desde os anos 1970, com o objetivo de reconhecer a trajetória pública e internacional de contribuição à ciência e à prática de hidrologia. As indicações de especialistas vêm de comitês nacionais e são depois analisadas por um comitê formado por representantes das três instituições.

Carlos Tucci é, de fato, uma referência em hidrologia no Brasil. Com quase 500 artigos publicados e diversos livros, o pesquisador foi um dos fundadores do curso de doutorado do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, uma das primeiras instituições de pós-graduação do país. Atualmente, o Instituto forma cerca de 15 a 20% dos especialistas da América Latina na parte de gestão de recursos hídricos. O livro “Hidrologia: ciência e aplicação”, escrito por Tucci, é adotado em todos os cursos de engenharia. Confira a entrevista concedida pelo especialista ao Noticias.CGEE:

Para começar, o que é hidrologia?
É a ciência da água. É a ciência que trata de todos os processos e sistemas, conhecendo as questões dos processos da disponibilidade de água, inundações, secas, e até o ciclo hidrológico, como ele se forma, efeitos que o antropismo tem sobre o ciclo hidrológico e o quanto isso afeta. A hidrologia está presente no abastecimento, no saneamento, na drenagem, nos resíduos sólidos, na agricultura, no transporte, na navegação, na energia das hidroelétricas. Todos esses setores apresentam componentes do conhecimento e do tratamento desses processos para o desenvolvimento.

O que o país tem avançado na área?
O que nós temos é uma busca maior do conhecimento de nossos sistemas, porque em recursos hídricos, em hidrologia, cada realidade é uma realidade. Existe a realidade física, a realidade antrópica, que estão combinadas com cada região. É preciso conhecer a realidade física com a antrópica combinada. A Amazônia e o Pantanal, por exemplo, são biomas brasileiros que temos que entender bem. O Brasil tinha se acostumado a usar modelos e programas desenvolvidos no exterior. Agora, nós desenvolvemos todos os modelos com os quais trabalhamos. Criamos todo o ferramental técnico aqui. Hoje, nessa parte de integração de modelos climáticos, ou seja, na parte hidrológica da utilização conjunta climática-hidrológica, tenho certeza de que somos um dos principais grupos que trabalham nisso.

Concretamente, o que permitiu essa evolução?
Dos anos 2000 para cá existem mais recursos para a pesquisa, mais profissionais trabalhando, o universo nessa área é muito maior agora. Nesse sentido melhorou bastante. Hoje temos instituído grande número de programas de pós-graduação, porque houve formação de muita gente no exterior.

Como foi para o senhor receber o Prêmio Internacional de Hidrologia?
Ele tem um peso muito grande em nível mundial. O que mais me chamou a atenção e me gratificou foi o fato de os prêmios de ciência no mundo normalmente serem dados a pesquisadores europeus, americanos, talvez australianos, mas sempre desses países onde há uma estrutura de investimento em ciência e tecnologia bastante estabelecida, em que o pesquisador não encontra grandes dificuldades. O fato de ganhar esse prêmio fazendo pesquisa dentro do Brasil é um fator importante. O país já evoluiu muito nos últimos tempos, mas ainda apresenta deficiências. O próprio investimento em C&T está sendo, como em todos os setores públicos, destruído pela burocracia. Há ainda muita coisa para se mudar. Se nós quisermos ser desenvolvidos, precisamos ter institucionalidade.

E o senhor atribui esse prêmio a quê?
Entre outros trabalhos, publiquei com a Unesco um livro sobre drenagem urbana de trópico úmidos e recentemente participei de uma publicação sobre gestão integrada de águas urbanas. Tenho também muitas publicações na parte de previsão de vazão de longo prazo, de curto prazo, utilizando modelos hidrológicos e climáticos. Estou desenvolvendo um trabalho grande com o Banco Mundial na área de gestão integrada de águas urbanas e o meu perfil inicial sempre foi o de modelagem de sistemas hídricos. A equipe com quem trabalho hoje montou o modelo hidrológico da Amazônia inteira. Discretizamos e simulamos toda a bacia amazônica em detalhes, comparando com imagens satélite de inundações que ocorreram na mesma data.

Qual é a sua relação com o CGEE?
Eu comecei em 2001, quando foi criado o Fundo Setorial de Recursos Hídricos [CT-Hidro] e trabalhei como secretário durante dois anos e meio. Nós fizemos toda a construção inicial do CT-Hidro até 2003. Agora voltei a trabalhar com o Centro para a revisão do documento de diretrizes estratégicas [Subsídios à Formulação de Diretrizes CT-Hidro]. De certa forma participei do início do CGEE.



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