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Química Verde

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Química Verde

Além de analisar o potencial brasileiro, outros temas foram tratados na recente publicação do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), “Química Verde no Brasil”, em parceria com a Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal do Ceará (UFC). O livro traz uma perspectiva no horizonte temporal de 20 anos a começar em 2010, analisando panoramas, apresentando resultados e sugerindo ações a serem tomadas por governos e instituições para implantar o exercício do conceito de química verde no Brasil.

A publicação destaca que, em posição privilegiada quando o tema em debate é desenvolvimento sustentável, o Brasil pode despontar como líder mundial no aproveitamento integral de biomassas. As vantagens incluem sua enorme biodiversidade, água em abundância e diversidade do clima, entre outros fatores. Dividido em nove capítulos, o livro separa um para cada área de atuação da química verde: biorrefinarias (rota bioquímica e rota termoquímica), alcoolquímica, oleoquímica, sucroquímica, fitoquímica, conversão de CO2, energias renováveis e bioprodutos, biocombustíveis e bioprocessos.

Mais do que uma atividade
O conceito de química verde nasceu há cerca de dez anos na Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, sigla em inglês), em colaboração com a Sociedade Americana de Química (ACS) e o Instituto de Química Verde. Segundo o assessor técnico do CGEE, Elyas Medeiros, que participou da produção do estudo, química verde é uma filosofia, “um conceito básico para o desenvolvimento da nova economia e dos mecanismos de desenvolvimento socioeconômico limpo”.

Define-se a expressão química verde pela utilização de técnicas e métodos químicos com o intuito de reduzir, ou até mesmo eliminar, a geração de produtos tóxicos e seu despejo no meio ambiente. Medeiros explica que este conceito deve percorrer toda a cadeia de produção de bens de consumo, pois funciona desde a extração da matéria-prima até a reciclagem. Uma mesa, por exemplo, necessita de madeira e deve ser preferencialmente reciclada ao fim do seu uso. Durante esses processos, a ideia de química verde deve ser exercida sob o paradigma da bioeconomia.

A bioeconomia, de acordo com o consultor do estudo e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Osvaldo Carioca, é uma nova abordagem econômica na maneira de encarar os processos químicos, considerando o impacto de processos industriais no meio ambiente e o uso de tecnologias limpas.

Vantagens brasileiras
O estudo do CGEE apontou as potencialidades do país em relação ao resto do mundo. Entre elas, encontra-se o fato de o Brasil possuir a maior biodiversidade do planeta, além de ter intensa radiação solar, água em abundância e grande variedade de climas em suas diferentes regiões. Em conjunto com esses fatores, o Brasil também foi pioneiro na produção de bicombustíveis da biomassa em larga escala, com especial destaque para o bioetanol. Essa área também esteve na pauta dos estudos do centro (clique aqui para visualizar as publicações lançadas).

Vale ressaltar também que o estudo chegou à conclusão que o país reúne condições para se tornar o principal receptor de investimentos no segmento de produção e uso de bioenergia. José Carioca explica que para tanto, o Brasil tem muita terra e necessidade de gerar empregos, o que caracteriza sua competitividade em relação aos países desenvolvidos. A maioria deles não dispõe de recursos renováveis ou terras e foca sua atuação na venda de tecnologias para os países em desenvolvimento. “Falamos de produtos químicos derivados da biomassa, não somente os bicombustíveis, mas sim, biopolímeros, fármacos e tantos outros”, constata Carioca. Para o consultor, química verde vai além desses aspectos, já que ainda envolve a química ambiental - o desenvolvimento de tecnologias limpas para tratar os atuais processos poluidores, como a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, etc.).

Perspectivas do futuro
O estudo produziu uma visão de futuro da área que atingisse a necessidade de adequar o país aos novos paradigmas da bioeconomia: “Estabelecer uma dinâmica de inovação e competitividade para a indústria brasileira baseada em processos químicos que usam matérias-primas renováveis dentro do contexto da química verde.” Com essa premissa, o trabalho conseguiu estabelecer cinco necessidades prioritárias e imediatas para a indústria no país: a institucionalização de um programa nacional, a estruturação de uma rede brasileira de PD&I em química verde, a criação de uma escola brasileira em química verde, o impulso do desenvolvimento da bioeconomia no país e a construção de marcos regulatórios para as indústrias que farão uso do conceito.

O programa nacional recomendado pelo estudo deve seguir as recomendações da International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC), autoridade internacional de nomenclatura, terminologia e métodos de medida para ciências. Além disso, o programa deve formar parcerias com o setor industrial e assim dinamizar a economia e a produção.

A rede brasileira de química verde proposta na publicação deverá fomentar o conhecimento da atividade em empresas, centros de pesquisa e universidades, o que promoverá maior eficiência e reduzirá o impacto de processos químicos no meio ambiente brasileiro. Isso construirá um modelo industrial sustentável no médio e longo prazo, desejado mundialmente.

Também como proposta no estudo, sugere-se que a escola brasileira de química verde constitua um centro de difusão do conhecimento sobre o assunto. “Temos que formar novos talentos que possibilitem a continuidade do progresso”, defende Carioca. O estudo recomendou ainda que a escola seja implantada junto a uma universidade com histórico e vocação no desenvolvimento da química no Brasil.

Em conjunto com a criação da escola, a quarta sugestão do livro explicita a necessidade da formação acadêmica nesse sentido, pois exige profissionais qualificados para fortalecer as cadeias produtivas envolvidas, tornando o Brasil mais competitivo na atividade. Por último, a necessidade de construir marcos regulatórios aparece como recomendação, já que, de acordo com o documento, é preciso estabelecer o que é permitido, como o uso ecologicamente correto e socialmente justo de recursos naturais. O estudo sugere a instalação de um núcleo de certificação de Produtos e Processos Limpos, que trabalhe em parceria com a rede e a escola nacionais de química verde. Este núcleo servirá para acompanhar a definição de marcos regulatórios no exterior para futura incorporação na legislação nacional.

Segundo José Carioca, as propostas têm a intenção de “agregar valor aos produtos do agronegócio brasileiro, priorizando a cooperação com indústrias, formando pessoas qualificadas e desenvolvendo projetos de demonstração comercial que incentivem os setores”.

Metodologia
A produção do estudo contou com quatro etapas principais: a definição de temas e tópicos estratégicos, a construção dos mapas tecnológicos no Brasil e no mundo para cada tema, a proposição de ações para a Agenda da Rede Brasileira de Química Verde e a consolidação do roadmap estratégico para três períodos: de 2010 a 2015, de 2016 a 2025 e de 2026 a 2030.

Fátima Ludovico, consultora responsável pela metodologia do estudo, ressaltou ao Notícias.CGEE que a contribuição intelectual e a articulação entre os setores foram cruciais para alcançar os objetivos do estudo. Para os desdobramentos futuros, a consultora diz que “espera-se que o governo federal, os governos estaduais, universidades, empresas e outros atores chaves busquem maximizar a eficiência no uso dos recursos naturais, por meio da aplicação dos conceitos de química verde, como os propostos pela publicação”.



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Número de programas de mestrado e doutorado triplicou no País, aponta estudo do CGEE

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Número de programas de mestrado e doutorado triplicou no País, aponta estudo do CGEE

O número de programas de mestrado e doutorado no Brasil apresentou, de 1996 a 2014, um crescimento de 205% e 210%, respectivamente. A expansão de títulos concedidos dentro dessas categorias foi ainda superior, de 379% e 486%. Os dados integram um estudo inédito do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) que será lançado no dia 5, em Porto Seguro (BA), durante a 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A publicação “Mestres e Doutores 2015: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira” revela que, apesar do crescimento do número de títulos de doutorado concedidos no Brasil, o seu valor ainda é baixo quando comparado a  outros países. Em 2013, por exemplo, a média brasileira foi de 7,6 doutores formados para cada grupo de 100 mil habitantes. Entre as nações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas México (4,2) e Chile (3,4) apresentaram desempenho inferior ao Brasil.

“O crescimento dessa mão de obra qualificada tem sido contínuo e consistente ao longo de quase duas décadas, o que reflete uma política de Estado bem sucedida. No entanto, ainda temos um caminho longo para trilhar. O estudo demonstra que há uma grande distância em relação aos países desenvolvidos, o que nos incentiva a manter e expandir os investimentos”, avalia a coordenadora do estudo, Sofia Daher. 

A publicação também aponta que houve uma desconcentração geográfica da pós-graduação. Em 1996, a maior parte dos mestres e doutores se formou na região Sudeste. Apenas São Paulo e Rio de Janeiro foram responsáveis por 58,8% dos títulos de mestrado e 83,4% dos de doutorado daquele ano, respectivamente. Em 2014, esses Estados responderam, em conjunto, por 36,6% dos mestres e 49,5% dos doutores formados no País. 

“Isso decorre da criação de novas universidades e campi que alcançam áreas que antes eram menos atendidas pelo sistema de pós-graduação”, afirma Daher. O número de títulos de mestrado concedidos na região Norte, por exemplo, passou de 135, em 1996, para 1884, em 2014, registrando um aumento de mais de 1200%. No doutorado, os títulos foram de 21 para 301.  

A publicação traz pela primeira vez a dinâmica do emprego formal de mestres e doutores analisada em seis anos sucessivos. “Os dados apontam que, mesmo com o crescimento expressivo dos egressos da pós-graduação, eles foram absorvidos pelo mercado de trabalho formal. Vale destacar que parte dos mestres logo se engaja no doutorado, antes de partir para o emprego”, afirma a coordenadora do estudo, Sofia Daher. 

O estudo demonstra que a taxa de emprego formal dos mestres e doutores manteve-se estável de 2009 a 2014, em cerca de 66% e 75%, respectivamente. Já o grau de formalidade do emprego da população em geral é em torno de 53%, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A iniciativa revela, ainda, que houve um aumento da inserção de mestres e doutores em entidades empresariais de segmentos de alta tecnologia, passando de 18%, em 2010, para 24%, em 2014. “Isso reflete uma maturidade dessas empresas no reconhecimento da importância de ter em seus quadros mão de obra altamente qualificada capaz de contribuir para atividades inovativas em setores como fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos; de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos; e aeronáutica”, ressalta.

A publicação integra um esforço do CGEE para avaliar a formação de recursos humanos em ciência, tecnologia e inovação no País e subsidiar a formulação de políticas públicas na área. Trata-se de uma atividade contínua do Centro, já em sua quarta edição (“Doutores 2010”, “Mestres 2012” e “Doutores brasileiros titulados no exterior”).

A iniciativa tem como objetivo gerar informações sobre a formação e o emprego de mestres e doutores no Brasil. O estudo apresenta um amplo conjunto de estatísticas relacionados à formação desses recursos humanos especializados a partir do cruzamento das bases de dados da RAIS/MTE, Coleta Capes e Plataforma Sucupira/Capes.

O estudo será lançado durante uma sessão especial da 68ª Reunião Anual da SBPC. Os dados serão apresentados pelo diretor do CGEE, Antonio Carlos Filgueira Galvão, em um painel coordenado pela presidente da SBPC, Helena Nader. Os resultados serão repercutidos pelo presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), Sergio Gargione; pelo representante da Diretoria de Programas e Bolsas no País da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), professor Adalberto Grassi; e pelo presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich.

Para ver o estudo na íntegra acesse o link: https://www.cgee.org.br/web/rhcti/mestres-e-doutores-2015